Sina de Ciganos (2014)
Matança
(Jatobá)
Cipó-caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato, da imburana
Descansar, morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto, tanta mata haja, vão matar
Tal mata atlântica e a próxima amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve o cedro, nosso primo
Desde menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona, porta, armário
Morar no dicionário, vida eterna milenar
Quem hoje é vivo
Corre perigo
E os inimigos do verde, da sombra, o ar
Que se respira
E a clorofila
Das matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chega a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar
É caviuna, cerejeira, baraúna
Imbuia, pau-d’arco, solva, juazeiro, jatobá
Gonçalo-alves, Paraíba, itaúba
Louro, ipê, paracaúba, peroba, maçaranduba
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
Catuaba, janaúba, aroeira, araribá
Pau-ferro, angico, amargoso, gameleira
Andiroba, copaíba, pau-Brasil, jequitibá
Quem hoje é vivo
Corre perigo
Curupira
(Waldemar Henrique)
Já andei três dias e três noites pelo mato
Sem parar
E no meu caminho não encontrei nenhuma
Caça pra matar
Só escuto pela frente pelo lado o Curupira
Me chamar
Ora aqui, ora ali, se escondendo sem
Parar num só lugar
Por esse danado muitas vezes me perdi
Na caminhada
E nem padre nosso me livrou desse
Danado da estrada
Curupira feiticeiro
Sai de trás do castanheiro
Pula pra frente
Defronta com a gente
Negrinho covarde matreiro
Deixa o caboclo passar
Amocariu
(Nilson Chaves/Saint Clair Du Baixo)
Tecai tutera
Amocariu
Itororó, pirajá
Perebebuí
Cajurú
Cametá
E Marajó
Põe o curumim
Para adormecê
Na samaúma
Mãe da floresta
Plumas ao vento
Itaguari
Tecai tutera
Amocariu
Outro Interior
(Não identificado)
Brilhar como estrela
Lá do interior
Tomar dela a luz
A cor
Pra mim
Pras pessoas
Abrir os caminhos
Não ter medo
Pra amar nunca é muito cedo
Triste é estar sozinho
Um coração
Vela na escuridão
Lembra minha cidade
Do interior
Guarda da solidão
Mas que me enche o peito
De saudade
Pelo que ela me traz
Pelas recordações
Pelo que eu quero mais
Ser feliz.
Interior
(Nilson Chaves, Vital Lima)
E bem depois que a chuva caiu
Ainda o cheiro de terra encharcada
Tua solidão e tua boca molhada
O coração, de novo, armando outra emboscada
E o nosso interior comendo estrada
Beber do poço pela primeira vez
Cochicha-me tua boca a frase guardada
Vaca que emprenha a sua primeira rês
Medo de dizer o que não sabe a manada
E o nosso interior bebendo estrada
Um lampião nos levará pra casa
Sua luz lumiará teu coração também
E quando for a hora de eu ir embora
Não chora, espera,
Que sempre chega um outro bem.
Exportação Brasileira
(João Gomes, Nilson Chaves)
Um índio da nossa tribo
Arriscou entrar no mato
Foi caçar alguma coisa
Pra matar a sua fome
E a companhia estrangeira
Avistando o movimento
Apagou sua memória
Lhe caçou com um tiro só
Só deram conta que o bicho
Não era onça nem lontra
Quando uma lady inglesa
Se queixou da pele estranha
Depois de muito cochicho
E muito disse me disse
Notaram que o tal casaco
Gelava o corpo da dama
Um índio da nossa tribo
Que fareja longe um ardil
Descuidou-se na caçada
Virou casaco de frio
Marudá - Canto de Carimbó
(Manoel Cordeiro, Nilson Chaves, Vital Lima)
Em Marapanim
Quando a lua se levanta
Traz junto com ela o suor da multidão
E na amplidão ressoa forte o pé
Que levantando o pó do chão
Põe no meu coração o carimbó
E eu, tão só, morena, e eu, tão só
Tomara que tu me venhas
No canto de carimbó...
Vi tua anágua voando pelo céu
Rasguei morena teu sonho de papel
De sermos como linha e carretel
Girando como gira o carrossel...
E eu, tão só, morena, e eu, tão só
Tomara que tu me venhas
No canto de carimbó...
Bye, Bye, Linda
(Vital Lima)
A gente só cruzou o olhar
e havia
tanta aflição, tesão, numa fração de dia.
Nem deu pra gente se falar
e o mundo ria, ria, ria
E aquele elo ali, cadeia de magia.
Bye, bye, linda
tudo cinza
onde começa, onde finda tudo?
Nada, nada de novo!
Mas já é genial saber que estás aí no mundo
que o amor é algo bom nascendo
ou se pondo
e que eu me vi no teu olhar bem lá no fundo
assim que o raio se partiu no ar, num estrondo.
A garantia que a loucura aqui termina
É igual poder dizer detalhes de uma sina
seria predizer sobre isso que germina
e mina, mina, minha mina
sem revelar a fonte d'água
que brota da colina.
Tento Dar Adeus
Tocar
Tum Tá Tá
(Walter Freitas)
Ei, nené,
São rãs e sapos
No quintal vazio
Ei, nené,
São chuvas finas
Na beira do rio
Um bicho brabo nas brenha
Prás bandas lá da mucajá
Neném, a ginga das "égua"
Na noite preta, tum-tá-tá
E é tanto terço
No roxo frio
Tum-tá-tá
São sete embalos na rede navio
Um tiro longe,
Quem fere prás bandas lá da mucajá?
Neném, teus "filho" no mundo
Na noite preta, tum-tá-tá
Mata de mata que na terra de tua saia,
Menina, mãe d´água aguou
Terra de terra que na mata de teu cabelo
Rescende cheiro-cheiroso, chuva, funga que fungou
Rio de rio que na maresia dos olhos,
Menina, desembocou
Noite de noite que na cabeçeira da ponte se afoga
Peixe bubuia, moça, caboco emprenhou
Um pau-de-arara, silêncio,
Prás bandas lá de mucajá
Tum-tá-tá morto, matado
Na noite preta, tum-tá-tá
Ei, neném. adeus, quem dera
Velas, ai marés
Ei, neném, rio acre, o mundo
Ai igarités
Preta tu não "tem" medo
Tu não "tem" guia manicoré
Flor, flor dos aramados
Ferpa, farpado, seu coroné
Pará
(Nilson Chaves)
Marabá e Marapanim
Castanhal, Soure, Tenoné
Vigia, Marudá, Gurupi
Salinas, Jacundá, Juruti
Santarém e Maracanã
Timboteua e Algodoal
Joanes, Curuá, Curumú
Bragança, Salvaterra, Mojú
Atalaia, Marituba, Araguaia e Caraparu
Igarapé Mirim, Béja, Breves, Igarapé Açú
Abaetetuba, São Domingos do Capim
Chaves, Mosqueiro, Óbidos, Tomé-Açu
Itaituba e Cametá
Benevides e Curuçá
Oeiras do Pará, peixe-Boi
Uarí, Viseu, Portel, Bujarú
Capanema e Gurupá
Altamira e Marajó
Ananindeua, Tijó, Itinga
Outeiro, Ourém, Oriximiná
Ilha do Bacurí, Irituia, Guamá, Almerim
Santo Antonio do Tauá, Alenquer, Anhangá, Arari
Barcarena, Araticú e Camiranga
Traquateua, Anhangapi e Mocajuba
Ajuruteua, Acará, Aveiro e Juaba
Monte Alegre, Anajás, Jacareacanga
Pacoval e Curuai
Cachoeira do Arari
Curuçambá e Tucuruí
Muaná, Colares, Icoaraci
Alter do Chão, Belém e Boim
Contra Canto
Tim Pim Tim/Pinta Cue
AnatôCurôaqui/Tijó
Pariaçú, Orôa
Chama
Tempo & Destino
Há entre o tempo e o destino
Um caso antigo, um elo, um par
Que pode acontecer, menino,
Se o tempo não passar?
Feito essas águas que subindo
Forçaram a gente a se mudar
Que pode acontecer, meu lindo
Se o tempo não passar?
O tempo é que me deu amigos
E esse amor que não me sai
Que doura os campos de trigo
E os cabelos de meu pai
Faz rebentar paixões
Depois se nega às criações
E assim mantém a vida
(que acontecerá aos corações
Se o tempo não passar?)
Não mato o meu amor, no fundo,
Porque tenho amizade nele
Que já faz parte do meu mundo
Do tempo entre eu e ele
Atalaia
(Nilson Chaves)
E tu ficastes serena
Nas entrelinhas dos sonhos
Nos escaninhos do riso
Olhando pra nós escondida
Com os teus olhos de rio
Viestes feito um gaiola
Engravidado de redes
Aportando nos trapiches
Do dia a dia e memória
Com os teus sonhos de rio
E ficastes defendida
Com todas as suas letras
Entre cartas e surpresas
Recírio, chuva e tristeza
Vês o peso da tua falta
Nas velas e barcos parados
Encalhados na saudade
De Val-de-cans ao Guamá
Porto de sal das lembranças
Das velhas palhas trançadas
Na rede de um outro riso
Às margens de outra cidade
Ah, os teus sonhos de rio!
Olho de boto
No fundo dos olhos
De toda a paisagem
Olho de Boto
(Cristóvam Araujo, Nilson Chaves)
E tu ficastes serena
Nas entrelinhas dos sonhos
Nos escaninhos do riso
Olhando pra nós escondida
Com os teus olhos de rio
Viestes feito um gaiola
Engravidado de redes
Aportando nos trapiches
Do dia a dia e memória
Com os teus sonhos de rio
E ficastes defendida
Com todas as suas letras
Entre cartas e surpresas
Recírio, chuva e tristeza
Vês o peso da tua falta
Nas velas e barcos parados
Encalhados na saudade
De Val-de-cans ao Guamá
Porto de sal das lembranças
Das velhas palhas trançadas
Na rede de um outro riso
Às margens de outra cidade
Ah, os teus sonhos de rio!
Olho de boto
No fundo dos olhos
De toda a paisagem
Da Paixão
Vê Se Não Demora
(Nilson Chaves, Vital Lima)
Olha meu amor se você diz que vai embora
Fico gitinho assim sem você
Todo o arco-íris se desfaz
Chegada a hora
Mas cá-te-espero, que ele volta a aparecer
Olha meu amor se você diz que vai embora
Eu tenho dó de mim sem prazer
Vendo a gaivota solitária em nossa praia
Por Deus me deu uma vontade de te ver
Parece que o tempo tá de bubuia
Parece que não quer passar
Parece que carece ter
A mágica de imaginar
A tua presença no ar
Num outro arco-íris
Olha não me diga nunca mais que vai embora
Não sou feliz assim e sofrer
Não tem nada a ver com o nosso amor
Com a nossa história
E eu quero a correnteza junto com você